Sabe quando a gente chega alegre da vida para conversar com uma pessoa e volta mais sem graça que a top model magrela da passarela?
É. Não brinca com esse negócio de energia não, que é muito sério. Vibração negativa, mau humor, pessimismo, baixa auto-estima, está tudo interligado, no útero da inveja.
Pode reparar. Gente que é chegada a um probleminho, a uma doencinha, a uma fofoquinha, à autopiedade, não sossega enquanto não arrastar todo mundo para o buraco da tristeza.
Se a criatura está numa roda onde a maioria leva o mesmo papo sem graça, muito mais por obrigação de conversar qualquer coisa do que pelo prazer de estar junto, aí beleza! Ela está segura.
Sabe que não é feliz, mas naquela rodinha desmagnetizada ninguém é também. Até você chegar, leve, sem jogar culpa no colo dos outros, disposto a rir de si. Propõe um brinde à vida, conta sobre uma palestra interessante, um filme imperdível, a ansiedade pelo show do ano, suas gafes, elogia um e outro…
As pessoas da roda vão entrando na sua energia positiva. Os risos fluem com facilidade assim como as soluções para os problemas do Brasil e da África. Viagens são combinadas, ainda que todos saibam que nunca serão realizadas. É somente pelo prazer de imaginar-se arrumando as malas, planejando passeios, despreocupadamente.
Tudo muito bom, se não fosse a tal pessoa da cara amarrada. Ela briga contra o próprio corpo, que tenta relaxar mas é contraído. Briga com o próprio riso. E o segura. Mas a briga maior é contra você. Ela torce para você ir embora. Faz questão de mostrar que não está achando a menor graça das suas graças, distorce o que você diz e cria uma situação de embaraço para você.
Quer um conselho? Saia de perto o mais rápido que puder! Antes que você se convença que a alegria não é a melhor coisa que existe.
Eu sinto na hora a energia baixa das pessoas. E o pior é por algumas delas eu sinto carinho e até forço a barra para encontrá-las. Tento sublimar, entender que são pessoas que tiveram problemas na infância, que não conseguiram pular elástico na altura da orelha, não tiveram calo de sangue brincando descalças de pega-bandeira ou não rasgaram e costuraram o joelho depois de uma queda entre polícia e ladrão.
Imagino que gente de cara amarrada nunca teve a alegria de achar no cofrinho a moeda que faltava para comprar o dindin feito do ki-suco de uva; nunca se divertiu quebrando bacuri no chão; não teve a experiência de sair pelas ruas procurando tampinha de coca-cola pra trocar por miniaturas que não serviriam para nada e não tiveram a sorte de encontrar a figurinha que completou o álbum.
Uma pessoa amarga não pode ter tido prazeres doces assim.
Mas é justo o mundo ter quer pagar essa dívida? De mais a mais, quem é que não teve aporrinhação? Quem não teve um apelido cruel? Quem não beijou mal na primeira vez? Quem não teve que dividir o último iogurte com o irmão? E quem não teve irmão? Ou iogurte?
Na minha história, por exemplo, aos 13 anos de idade, assim como o Marvin, eu sentia todo peso do mundo em minhas costas. É verdade que o peso tinha a ver também com a abacatada que a minha mãe me dava todo dia até os dez anos de idade. Dos dez em diante, cremogema. Era peso nas costas, na barriga, nas pernas…
Mas, além disso, tinha o peso de cuidar da casa e do meu irmãozinho adorado-atentado, dois anos mais novo que eu. Não tínhamos empregada, meus pais trabalhavam fora, e, aos onze anos já limpava a casa e finalizava o almoço que minha mãe deixara encaminhado pela manhã.
O feijão preto já estava na panela de pressão. Era só acender o fogo e desligá-lo após 40 minutos. 40 minutos? Dá tempo de uma partidinha de pega-bandeira, né não? Liguei o fogo e fui brincar…40, 60, 120 minutos depois e:
“Corram, que explodiu alguma coisa num apartamento!”, gritou a vizinha.
E eu, do meio da quadra, apenas por curiosidade: “Eita, qual foi o apartamento, gente?” E a vizinha desesperada: “Lili, acho que foi no seu!”.
E eu correndo: “O feijããããããããããããããããããõ!”.
Correu atrás de mim toda a garotada que estava brincando e mais os vizinhos fofoqueiros, enfim, barraco comum da classe média. Quando entrei no apê, meu mundo explodiu. Tinha feijão por toda a cozinha. Principalmente no teto, mais difícil de limpar. Tudo estava roxo. Eu só pensava na bronca da minha genitora. E, como autêntica gordinha, lamentei pelo feijão que não comeria. E mamys chegou. E eu chorei muito, porque a briga foi grande!
As brincadeiras na rua foram suspensas por um mês, por motivo de feijão maior. Mas teve um lado positivo: curei o calo de sangue no pé.
É assim a vida de todo mundo. Numa hora estamos brincando; noutra, de castigo. Para quê ser o estraga-prazeres da roda? Para quê culpar o mundo inteiro por seus problemas de estimação?
Se está muito pressionado, se está passando do limite de suportar a pressão, faça como a panela e exploda. Jogue fora tudo de uma vez. Livre-se do que está demais. Depois, é só limpar a panela e preparar uma nova feijoada. Completa.