“Estou sem paciência para conversas rasas”. Assim um amigo justificou seu ex-futuro-fracassado relacionamento amoroso.
Achei interessante, por ter partido de um homem cujo estereótipo formado na mente das mulheres é o de um ser 99,9% carnal.
Ele não estava reclamando de nenhum atributo externo da ficante. Interrompeu seu potencial caso amoroso simplesmente após as primeiras conversas com ela. “Ah, é assim que você quer continuar?”, pensou ele, antes de dar o caso por encerrado. E encerrou.
Ele, que é um grande musicista, comparou os relacionamentos entre pessoas com os instrumentos em uma orquestra. “Instrumentos com a mesma afinação soam em ressonância”.
Mas, como no peito do desafinado também bate um coração, por vezes forçamos um dó maior, insistimos pra ver a banda tocar coisas de amor.
Conheci uma menina linda que namorava um rapaz igualmente lindo. Eles estavam naquela fase 1: conhecendo a vida um do outro. Mas a vida dos dois era rasinha, rasinha. Era só dizer o que fez no dia e pronto, acabou o repertório.
Sempre acho estranho quem conversa dando detalhes do seu dia: Acordei às 6h, tomei banho, comi só mamão no café, porque não gosto de comer muito de manhã, e saí pra levar o menino para a escola. (!!??) Quem merece imaginar a criatura tomando banho e comendo mamão? E o que importa isso?
Mas, enfim, voltemos ao casal mudo. Sem ter nada para contar ao namorado, ela lançou mão de uma perspicaz estratégia. Fez de conta que iniciaria uma frase:
– Robson…
Ele, lógico, quis saber o restante:
– Diga.
Ela: – Não , nada não.
Ele: – Pode dizer. O que você quer me dizer?
Ela: – Nada, deixa pra lá…
Ele começou a zangar-se, imaginando que ela estava escondendo alguma coisa, e formou-se a briga.
Cada um foi pra sua casa sem dizer nada (claro).
Eu achei muito doida essa história, pois a vida de todos nós é tão rica, não é mesmo? Cada um passou por tantas vivências. Como não contextualizar com a vida do outro, aprender com ele, contar, perguntar…
O filósofo Nietzsche deu uma dica que Robson deveria aproveitar. Segundo ele, para saber se deveríamos casar com uma pessoa, bastaria nos perguntar: “Continuarei a ter prazer de conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?”. Concordo totalmente. Uma conversa fluida é muito mais empolgante do que qualquer beleza de qualquer salão.
Mas enquanto não se acha a alma afim, tenho uma dica para evitar constrangimentos com a alma penada.
Quando não tiver jeito de emendar um assunto no outro, faça melhor que a ex-namorada do Robson (sim, eles terminaram poucos dias depois). Simule um programa de entrevista. Do tipo pingue-pongue. Funciona. Já fiz.
Quebra o gelo e passa o tempo. Se perceber que o papo não vai engrenar, parta pras perguntas: Filme que mais gosta? Viagem inesquecível? Maior defeito (atenção especial para esta resposta!!). Se não avançar, pelo menos deve render umas boas risadas.
Mas o que é uma boa conversa? Aí vai de pessoa a pessoa. Para mim, papo bom é aquele que faz a gente esquecer de tirar selfie. É o que te faz querer esticar o tempo, e, de preferência, que provoque muitas risadas.
Aquele papo que faz a gente se sentir com um velho amigo, bem à vontade. Tipo o que acontecia entre Nando e Cássia, que não viam a hora de se encontrar e continuar aquela conversa que não terminaram ontem. Ficou pra hoje.