Você acredita em chamado interno? Vocação? Propósito?

Não diga “não” antes de conhecer a história de um amigo meu jornalista.

Quando adolescente, ele tinha o sonho de ser médico, mas não deu asas para esta vontade. Gostava de escrever e escolheu o Jornalismo.

Durante 15 anos ele brilhou na carreira.

Ganhou prêmios e passeou por várias áreas da Comunicação.

Porém, embora aparentemente feliz e ganhando bem, o chamado interno do médico voltou a soar. E mais alto.

Já não conseguia pensar noutra coisa, a ponto de atrapalhar sua rotina de trabalho, até então sob controle.

Ele começou a sentir medo dos próprios pensamentos, pois tanto poderia ser um chamado como poderia ser autossabotagem, afinal tudo parecia estar no lugar certo.

Em casos assim, é comum que se desvie o foco do incômodo para pôr luz em planos que parecem ser a solução da vida.

É quando surgem propostas para a viagem dos sonhos, um negócio próprio, uma casa nova.

Mas há os que preferem enfrentar a situação com muita coragem e fazerem o mais difícil: silêncio.

Não deve ser coincidência que extraordinários seres humanos, como Buda e Jesus, costumavam ficar por horas em silêncio. Porque o silêncio fala.

Conta-se que, certa vez, perguntaram à madre Teresa de Calcutá o que ela pedia para Deus em suas orações, e ela respondeu:

“Eu não peço nada, só escuto”.

E a pessoa retrucou: “E o que Ele diz à sra.?”

“Ele não diz nada, só escuta”.

Assim fez meu amigo. Aquietou-se e deixou vir à tona as memórias de quando era adolescente.

E as perguntas jorravam em sua mente…

  • Devo abrir mão da segurança deste emprego?
  • E se não der certo a nova escolha?
  • E se não for isso que Deus está querendo dizer?

São os tormentos que ninguém conta nas histórias de vencedores.

Só mostram o palco e os prêmios.

Passam superficialmente pelo período anterior, o suficiente para dar emoção à saga do herói.

Não tem como saber das agonias íntimas de quem tem que fazer uma escolha que vai mudar sua vida. Da culpa, do medo, da insegurança, da vontade de ouvir alguém dizer faça isso, não faça aquilo.

Mas não tem jeito. A decisão é solitária.

É respirar e ir.

Ele foi.

Matriculou-se em um cursinho preparatório para concursos e passou a estudar à noite, para não comprometer seu trabalho.

Quanto mais ele falava sobre seu sonho para os novos colegas do cursinho, mais ele ficava radiante, mais ele se imaginava de jaleco cuidando das pessoas, e esta imagem passou a não ser absurda.

Sua alegria voltou a brotar.

Começou a ficar assustado com essa fonte de alegria, pois há poucos dias essas imagens não passavam por sua mente e não há garantia que a nova vida será melhor.

Depois de seis meses estudando e trabalhando, ele teve a certeza do que queria. Pediu demissão e passou a estudar em tempo integral.

Após um ano de cursinho, resolveu prestar alguns vestibulares para testar seus conhecimentos.

Com o resultado, poderia identificar melhor suas fraquezas e adequar seu plano de estudo.

Mas o improvável aconteceu. Ele foi aprovado!!

Na primeira tentativa, ele foi aprovado!

Só podia ser um sinal de que ele estava no caminho certo, pensou.

A festa foi grande, mas a alegria durou pouco.

Como sabemos, o curso de Medicina é o mais caro do Brasil. Ele não teria como pagar. E a faculdade não permitiu que ele usasse os recursos do programa de financiamento estudantil do Governo Federal, o FIES, porque tinha outra formação superior.

Tudo bem. Para quem não estudava há décadas, foi um excelente retorno. Provou que o sonho é possível. Continuaria estudando para tentar a vaga em alguma universidade pública.

Ajustou o foco e seguiu.

Seis meses depois, abriram novas inscrições para os vestibulares e lá foi ele, com seus medos no bolso.

Mais uma vez, o resultado desafiador de uma faculdade particular: aprovado!

Ele não conseguia explicar o que estava sentindo. Um misto de gratidão e insegurança.

Recebia uma segunda chance e não queria mais justificar que “não era para ser”.

Mas os planos do criador são do tipo raiz. Só para os fortes.

A faculdade particular era localizada num Estado que ele não conhecia, a 1.300 quilômetros de onde morava.

E mais: se ele quisesse seguir adiante para concretizar seu sonho, teria dois dias para assumir a vaga como estudante de Medicina.

Dois dias?

Dois dias para mudar de cidade e toda uma vida…

A cada dois segundos, sua mente dava um looping entre euforia e medo.

E o desafio maior nesta montanha-russa era bem real.

A mensalidade nesta faculdade custava cerca de R$ 7mil.

Sete mil reais por mês é um valor significativo para quem é de classe média, está sem emprego e teria que estudar em tempo integral, sem tempo para gerar renda.

Mas ele não queria desistir de mais esta aprovação.

Com a objetividade de um estrategista, levantou suas hipóteses:

  • Tinha reserva financeira para bancar os quatro anos? Não.
  • Tinha fonte de renda passiva? Sim. O aluguel de seu apartamento poderia bancar seu sustento na outra cidade.
  • Era casado, para contar com suporte financeiro do cônjuge? Não.
  • Seus pais poderiam assumir essa dívida? Não.

Com 3 a 1 para o não, o jogo caminhava para o comando “volte três casas e fique onde está”.

Ele tinha 48 horas para fazer sua matrícula e não fazia ideia de onde conseguiria a bagatela de R$ 500 mil pelos seis anos do curso.

Considerou vender o apartamento para investir no sonho, mas o valor do aluguel bancaria moradia, alimentação e livros. Se perdesse essa fonte, cobriria o pé e descobriria a cabeça.

Eu sugeri organizarmos uma vaquinha online, mas ele não levou a sério meu rebanho tecnológico, pois teríamos pouco tempo para arrecadar.

Os amigos mais próximos doaram algum valor, mas longe do necessário.

Os minutos teimavam em correr.

Não havia mais nenhuma possibilidade na mesa.

Começou a sentir falta da parte do criador na promessa que ouvira no silêncio:Faça por ti que eu te ajudarei.

Sem saídas, fez o que os estudiosos de física quântica ensinam: soltou o problema.

Muito triste, ele anunciou aos amigos e familiares que, mais uma vez, desistiria da vaga.

O professor paulista de Mecânica Quântica, Hélio Couto, teria aprovado esta sua ação que parece uma não-ação. Em seu livro Soltar, Individuação e Iluminação: Soltar é o maior poder que existe, ele diz: Soltar é a coisa mais importante, mais poderosa, que uma pessoa pode fazer para ter sucesso, realização, prosperidade e felicidade”.

Hélio Couto completa:

“O soltar é para facilitar entrar no fluxo. Quanto mais uma pessoa força pagar uma dívida, por exemplo, mais dívida ela atrai, porque quanto mais força ela coloca, mais ela paralisa o fluxo que está andando. É desapegar da dívida e trabalhar para ganhar e pagar a dívida. Não é pôr foco na dívida, é pôr foco na solução, em ganhar, em resolver, e isso implica em trabalhar, estudar e ajudar no máximo da capacidade da pessoa. Basta fazer isso que tudo se resolve no devido tempo”.

Meu amigo, que não dá a mínima bola para física quântica, soltou o problema por pura falta de opção.

E desta vez, não havia a motivação da primeira desistência. Estava abatido para recomeçar a rotina de estudos.

Se fosse filme, poderia tocar agora “A Via Láctea” de Renato Russo:

“Quando tudo está perdido, sempre existe um caminho”…

Eis que surge um cunhado nessa história, como um bom filme de super-heróis.

Médico, ele fez a proposta que jamais meu amigo ousou imaginar, pois é assim que acontecem quando soltamos nossos problemas para o criador resolver.

Sabendo que desistiria da segunda aprovação, o cunhado simplesmente ofereceu para pagar TO-DOS (!!) os seis anos da faculdade.

Disse que ficou sensibilizado com o esforço que meu amigo estava fazendo para seguir seu sonho e que ele, como médico, não poderia deixá-lo desistir.

Depois de choro com gargalhada e da quase promessa de subir de joelhos todas as escadas de todas igrejas, sob o sol de meio-dia do Nordeste, eles selaram um acordo.

Sim, foi um negócio entre dois adultos responsáveis com dinheiro.

Registraram o acordo em cartório, dando fé que todo o valor seria restituído quando meu amigo começasse a ser remunerado.

Perceba o que está contido neste contrato: o fiador estava assumindo todas as mensalidades, com previsão de retorno após seis anos de faculdade + dois anos de residência médica + as primeiras consultas.

Nas entrelinhas, o documento vai além de resolver o problema das 72 mensalidades.

Está dando como certo o sucesso do sonho do meu amigo, uma vez que a garantia do pagamento está nos pacientes que estão por vir.

Não há quem esqueça isso.

Por mais que meu amigo o reembolse com juros, esta dívida jamais será quitada.

Agora que a metade do curso já foi concluída, meu lado desconfiado quis saber se estava tudo certo. Não acreditei que o anjo financeiro honraria o acordo até o final.

Temia que no meio do caminho ele fizesse uma sutil proposta para encontrarem outras alternativas, devido à crise, ao dólar, à pandemia. Justificativas não faltariam nesta gangorra econômica do Brasil.

Porém, segundo o futuro psiquiatra, tudo segue tal como o primeiro mês, com pagamento em dia e sem cobrança de nada.

O acadêmico é quem faz questão de apresentar os comprovantes do investimento, as notas das provas e reconhecimentos dos professores.

Faz parte do pacote da gratidão que nunca será pago.

Ele sente a necessidade de retribuir. É como funciona a lei de dar e receber.

Fico pensando quantas pessoas tirariam R$ 8 mil (sim, o valor subiu para 8) do orçamento todo mês, durante anos, para bancar o sonho de alguém.

E vale lembrar que cunhado não é irmão, mãe ou pai. Na visão materialista, cunhado é um meio-familiar, emprestado, e que pode sair de nossa família a qualquer momento.

Talvez, se víssemos o lado batalhador e honesto da pessoa e as barreiras que ela teve que ultrapassar para mudar toda sua vida, ficássemos tentados a ajudar. Mas, em geral, não agimos de forma tão decisiva no plano de outra pessoa.

Por isso, tenho certeza que a formatura do meu amigo, prevista para dezembro de 2022, será muito emocionante.

Gostaria de estar presente para vê-lo dedicar o diploma a quem vislumbrou, acreditou e facilitou sua vitória.

Que levemos este exemplo para o nosso dia a dia, prestando atenção nos sonhos dos que estão ao nosso redor. Se não pudermos ajudar com cheque em branco, ofereçamos nossa escuta para ouvirmos, em silêncio, o chamado do outro. Seria uma rara contribuição.

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IDT indica

Soltar, Individuação e Iluminação: Soltar é o Maior Poder que Existe (Hélio Couto)

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OUÇA AQUI: PODCAST O preço de uma vocação”