Ao encontrar uma professora do Ensino Médio, 30 anos depois, a ex-aluna pergunta pelo esposo dela, à época professor do mesmo colégio e chamado pelos alunos adolescentes por “tio”.

– E o tio, professora, como está?

– Está cada vez mais lindo, minha filha! Lindo, de cabelos branquinhos!

– Branquinhos? Ele parecia o Toquinho, com os cabelos bem lisos e pretos!

– A fase Toquinho passou. Agora, está mais para Anthony Hopkins!

A ex-aluna compartilhou com o grupo que observava o diálogo que esta professora sempre foi extremamente bem-humorada, o que fazia de suas aulas imperdíveis. Tanto que a direção da escola fazia tudo para que seu horário fosse o último, a fim de manter a turma motivada até o final.

Ela continuou perguntando mais sobre o relacionamento amoroso da professora.

– Vocês estão juntos há quantos anos, professora?

– 44 anos de casados, fora os de namoro

– E a senhora continua com a mesma admiração por ele. Qual o segredo?

– Minha filha, estamos do mesmo jeito do início. Saímos para tomar nossa cerveja, nos divertimos, e meu marido nuuuuuuunca disse, em nem um único dia desses 44 anos, que eu estava gorda ou feia, nunca implicou com roupa, nada disso. Pelo contrário, ele sempre elogia, diz que estou linda. Isso alimenta o relacionamento e diminui a potência dos problemas que surgem.

– Vocês sempre foram muito alegres. Era frequente vermos vocês dois rindo na sala de professores. Motivo de comentários entre a gente. A senhora diria que o bom humor é fundamental para manter um casamento feliz?

– Com certeza! Na minha visão, são quatro elementos fundamentais que sustentam o nosso relacionamento: bom humor, respeito, amizade e tesão.

– Eita… Tesão depois de 44 anos…

(gargalhada geral)

– Tesão, sim! Temos que ter tesão pela pessoa com quem convivemos. Depois de velhinhos, a frequência sexual vai diminuindo, mas continuamos sentindo admiração pelo outro, e isso também é tesão. Tesão pela pessoa, por amar estar na companhia dela.

– Gostei do fator amizade também. Vejo casais que não são amigos. Não tratariam os amigos da forma como tratam seus parceiros.

– Exatamente. No restaurante, nós observamos muito os casais que aparentemente têm muitos anos de relação. O homem sai andando à frente da mulher, que vem com seu passinho lento atrás. De jeito nenhum isso acontece conosco! Chegamos de mãos dadas sempre. E sobre a amizade, é o seguinte: meu marido pode ter feito a maior besteira do mundo, mas se ele me chamar para ajudá-lo, largo o que estiver fazendo e vou. Depois conversamos sobre a situação, e posso até soltar o verbo em cima dele, mas, primeiro, eu o ajudo. Estarei pronta para salvá-lo a qualquer dia, a qualquer hora. Isso é amizade, cumplicidade.

– Ownnnnnnnnnn, que fofo…

– Mas ele faz a parte dele para que eu seja assim. E nos detalhes do dia a dia. Ele faz meu café da manhã, você acredita? Leva na cama para mim, com as coisas que eu gosto. Como não amar?

– Mas a senhora faz uns denguinhos também, né?

– Ah, minha filha, muuuuuitos denguinhos. Nem queira imaginar!!!!

O diálogo ocorreu um dia depois de eu ter revisto uma entrevista realizada pelo jornalista Pedro Bial com a também jornalista, e atriz, Marília Gabriela, em que ela diz que vive sozinha por opção. Que já passou por três casamentos, mas que hoje é feliz sozinha e que gosta de ficar sozinha em casa, pois ama o silêncio.

No atual momento, estou mais para a escolha da Gabi, mas não deixo de admirar os casais e de encorajar os amigos a refazerem suas uniões, a tentarem transformar o que está ruim para renascer o brilho da admiração mútua.

Essa história é uma prova social de que a relação a dois pode dar certo. Que existe a possibilidade de convivência por quase 50 anos com alguém sem que seja vista como uma relação de obrigação pelo papel assinado ou por mera conveniência. Que é possível gargalhar por anos e anos com a mesma pessoa, admirá-la, respeitá-la e ser sua cúmplice. Bom de saber, bom para sonhar.