“Quando se acolhe, é uma forma de amar. Independente do afeto que provoca”.
Ouvi esta pérola de uma querida amiga psicóloga, enquanto conversávamos sobre amor genuíno.
Podemos amar sem que haja afeto positivo? Amar a quem a simples presença nos incomoda?
De um lado da mente: é possível. Do outro: é possível?
Isso me faz lembrar de um casal cuja esposa foi traída no casamento, culminando em separação e na formação de uma nova família com a segunda esposa.
Os anos se passaram, até que o homem perdeu a memória, a visão e o domínio do movimento dos braços. A mulher disse ser incapaz de cuidar dele e saiu de casa.
Sem ter a quem recorrer, ele contou com a mão da ex-esposa, a quem abandonara. Ela ofereceu sua casa para abrigá-lo, bem como os seus cuidados. Se ela lembra da traição a cada colherada de mingau que leva até à boca do ex-marido, não se sabe. Ela simplesmente acolheu.
Ela afirma que não existe amor romântico ali. Segue sua vida com outro romance, inclusive. Dá banho no ex-marido, mais colheradas de mingau, veste nele o pijama, e sai com o namorado. Digna, muito digna, digníssima.
Talvez tenhamos aprendido errado sobre o amor. De que só é amor se houver prazer em conviver, cumplicidade, alegria, brilho nos olhos. Falta aprendermos mais com pessoas como esta mulher, que chega ao final da vida, acolhendo sem distinção, amando um amor caridoso, uma outra forma de amor. Um amor maior que eu, diria Jota Quest.
Talvez seja um amor insuficiente para quem recebe, já que não verá o brilho nos olhos de quem o acolhe, mas deve ser esta a maior de todas as doações de amor, já que nada se espera de quem o recebe, nem mesmo a gratidão. Amor que eu desconheço, concluiria a canção.
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CITADO NO TEXTO
Amor Maior- Jota Quest