Implicar com os jogos virtuais das crianças sob argumento de que elas não conhecem com quem estão interagindo é como esquecer que já fomos enganados por pessoas com quem convivemos no mundo real, nas quais depositamos toda nossa confiança.
O grupo de jogo virtual do qual meu filho faz parte conversa, ri, briga, igualzinho ao da vida presencial. Dia desses teve discussão:
– Cara, você é muito desumilde!, esbravejou meu filho, fazendo com que eu procurasse no Google se esta palavra existe.
(Desumilde: que age buscando humilhar ou diminuir outra pessoa; arrogante, presunçoso).
Ele também já encheu os olhos d’água quando ninguém o convidou para o chat. Parecido quando não me chamavam para pular elástico.
Mas, o pior foi vê-lo sofrer uma rasteira de um “amigo” que furtou sua espada preciosa. O menino virtual pediu emprestado a espada preciosa para brincar, com a condição de devolvê-la em minutos. Só que o menino desapareceu do jogo. Ficou com a espada e sumiu do grupo.
Diferente da vida real, em que podemos sair correndo atrás do traíra, no online não tem como.
– Mãe, eu confiei nele! Sou muito burro!
O menino sumiu mesmo. Porém, entrou no grupo um outro mais legal. E o novo amigo virou o melhor amigo em questão de minutos. Jogam todos os dias, conversam demais. É quando meu filho mais gargalha.
Um dia, o menino avisou que ficaria off por uns dias, pois teria que fazer uma cirurgia. Do hospital, ele enviou a foto da mãozinha com soro.
Após três dias de molho no hospital e off dos jogos, finalmente o amigo retornou.
– Mãe, eu posso usar meu “salário” para dar um presente pra ele?, propôs meu filho
– Você quer ficar sem sua mesada?
– Sim. Ele é meu melhor amigo, e eu queria que ele ficasse alegre depois desses dias no hospital
O presente seria a moeda virtual que só serve para trocar por acessórios úteis no jogo, como uma orelha de pelúcia.
No dia seguinte, a surpresa. Um terceiro amigo presenteou meu filho com uma espada rara.
E assim ele vai aprendendo que se somos enganados, mas continuamos fazendo o bem, o Universo dá um jeito de retribuir. Não importa se no mundo virtual ou online, crianças ou adultos, a energia do bem é uma só.