Muitos dos nossos hábitos são tocados no automático. Como quem vai dirigindo e pensando na palestra que tem que realizar, no filho que tem que pegar na escola, na conta vencida, até levar uma buzinada e retornar a atenção para a pista. Assim  também são as dependências que vamos alimentando na nossa vida, no automático.

Existem pessoas dependentes de uma vida imaginária, por exemplo. Entram no universo fictício, criam uma estória para si e saem por aí contando a mentira como se fosse real. A pessoa realmente acredita na mentira que contou, como quando presenciei uma conversa estranha de uma amiga e seu paquera riquíssimo.

-“Ei, menina! Nunca mais tinha visto você. Andava por onde?”, perguntou ele

-“No Japão”, disse a menina da classe média e que jamais havia saído do Nordeste

Vale contextualizar que este diálogo foi no final dos anos 80, numa pequena cidade onde o máximo da ostentação era viajar para o Rio de Janeiro e nas férias! Um tempo em que os filmes vencedores do Oscar passavam primeiro nos cinemas do Rio e somente um ano depois chegavam à referida cidade. E quando chegavam. Mais certo seria alugar a fita numa locadora de vídeo (se você tem menos de 30 anos de idade, desconsidere esta frase arcaica).

O rapaz rico, que conhecia somente os Estados Unidos e Portugal, ficou curioso:

“Não conheço o Japão. O que você foi fazer lá? Como é lá? O que mais você gostou de lá?”, disparou o cara, deixando a situação tensa para qualquer pessoa, menos para quem está habituado a mentir, como era o caso da menina.

– “Fui passear, mas não gostei. Prefiro nem lembrar dessa viagem”, saiu pela tangente a cara de pau.

“Ah, tá”, engoliu o ingênuo.

Quando questionei sobre o absurdo daquilo, do porquê ter mentido daquele jeito, já que a máxima distância percorrida por ela foi de sua casa ao centro da sua cidade, ela disse que queria que ele pensasse que ela também era rica. A partir daí, testemunhei várias outras pequenas mentiras contadas por ela e fiquei com medo de continuar esta amizade.

Assim também é a dependência pela fofoca, hábito de vasculhar a vida do outro e passar adiante as “novidades”. Tenho um colega que é viciado nisso. Nas rodas, ele sempre tem na pauta a vida de alguém. E sempre com o interesse do que a pessoa vive, quanto ela ganha. Uma obsessão por saber em primeira mão e replicar as informações. Brincávamos muito sobre este traço dele, mas hoje vejo que não deveríamos ter banalizado esta dependência de falar da vida alheia.

E antes que achemos que não temos nenhuma dependência que nos domine, como álcool ou cigarro, nem inventamos coisas e nem falamos da vida dos outros, outro alerta: e as postagens diárias nas redes sociais? São saudáveis ou dependência? “Faz parte do meu trabalho”, responderiam alguns. Mas, será mesmo que seus clientes precisam ver todos os seus hábitos pessoais? Não é você quem está dependente de compartilhar sua vida?

Quando o Instagram eliminou das postagens a exibição do número de curtidas, ele fez um grande bem aos dependentes da rede. Aquela estratégia de comparação entre as postagens estava levando as pessoas a uma competição e comparação insanas. Ainda assim, tem gente que acessa suas redes no primeiro minuto após acordar. Ainda deitada, já está alimentando sua dependência sobre a vida dos outros e se a sua foto ou mensagem foi bem validada pelos outros. Outros, outros, outros.

Há quem explique as dependências exatamente neste ponto: a necessidade de aprovação, aceitação dos outros. Ou seja, baixa autoestima. Assisti a uma canalização interessante no canal do YouTube “Trabalhadores da Luz”, onde a família Abraham, que compartilha mensagens sobre a Lei da Atração, explicou o seguinte sobre as dependências em geral:

“Toda dependência começa num único local: falta de amor próprio. Começa tudo ali. Você vê que não é bem aceito pelos seus amigos se você não bebe a mesma quantidade que eles; você não é bem aceito pela sociedade se não estiver casado; você não é respeitado pelas pessoas da sua família se acaso não tiver um bom trabalho; você não se sente segura ou alegre o suficiente se não usar o cigarro ou uma porção de álcool”.

E continuam explicando:

“A falta de amor, a falta de reconhecimento de saber quem você é, faz com que você seja dependente de um estímulo externo. Pode ser um sorriso, álcool, cigarro, drogas, sexo, vícios de qualquer natureza. Pode ser até limpar a casa ou o carro. Se você não se se amar o suficiente, vai procurar este abraço, este aconchego energético em outras coisas”.

E eles dizem ainda:

“Você não precisa estar alegre porque está com um copo de álcool. Ou ser o mais popular, tomando um cafezinho com um cigarro. Você pode ser a pessoa mais interessante lá no seu canto. As pessoas irão até você se você for uma pessoa interessante, segura de si, que confia no Universo. Aquela pessoa que tem luz atrai outras pessoas. Por isso, é preciso trabalhar a sua independência emocional. Você vai estar com uma pessoa porque você quer estar, vai dizer algo porque quer dizer, fará uma escolha porque quer fazer, e não porque não quer que a outra pessoa fique triste, porque você quer ser aceita, ser amada”.

Explicado o porquê de alimentarmos as dependências, os vícios, os Abraham orientam a tentarmos “bagunçar nosso subconsciente” com comandos diferentes de até então.

“Quando estiver com vontade de fumar, pegue o cigarro e olhe para ele. Pare para decidir se você realmente quer acendê-lo. Comece a sair do automático de abrir a bolsa, tirar a carteira e o isqueiro, sem nem pensar. Este ritual já está no seu subconsciente. Então, é preciso torná-lo consciente. Quero acender este cigarro? Quero abrir esta garrafa? Quero sair com esta pessoa para ter relação sexual? Quero sair com estas pessoas que consomem drogas? Tome a consciência. Este é o primeiro passo. É isso que eu mais quero neste momento ou posso deixar para depois? Se for assim, siga a sua vida sem aquilo. Se acaso vier novamente a vontade, pergunte novamente: Eu preciso disso agora? Se a resposta for: Sim, eu preciso disso agora. Então, siga o seu hábito, mas o faça consciente e não conclua o ato. Não fume o cigarro até o fim. Interrompa a bebida na metade do copo. Isso faz parte do final do ritual. Faça isso todas as vezes. Fazendo isso, você está criando uma bagunça no seu subconsciente que já estava habituado àquelas situações. Você não sabe o poder que seu subconsciente tem na sua vida! A cada vez, você vai sair do automático. E, quem sabe, a sensação de liberdade vai começar a fermentar dentro de você de um tal modo, que você vai começar a pensar cada vez menos no seu vício e pensar com muito mais carinho em si mesmo”.

Depende de nós.

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 CITADO NO TEXTO