Domingo à noite, eu distante da minha cidade e pah: recebo uma chamada de vídeo dos amigos que deixei. Em coro, eles cantam:
“Sim, vem cá ficar comigo! Sim, gosta de tudo o que eu gosto!”
Aos que não conhecem, não é uma música romântica fofa. É música de rock nacional dos anos 80 dedicada à barata Kafka. Sim, os amigos estavam cantando para mim uma música de barata. Sim, é por isso que eu os amo e morro de saudade deles, porque eles me conhecem, sabem que gosto de rock nacional, de anos 80 e de molecagem. Sim, gostam de tudo o que eu gosto, sim.
E fiquei pensando neles. São 15 anos de amizade, de muita festa, zoeira, trabalho, brigas e companheirismo. Já seguramos barras por falecimentos nas famílias, já nos empurramos para trabalhos salvadores de boletos, já pagamos contas do outro liso, já choramos juntos, mas as risadas foram em número muito maior.
Neste domingo eles estão lá, rindo mais uma vez. Eu não. Mas, gostei de saber que de alguma forma, estive com eles. Cantamos juntos: “La Cucaracha, La Cucaracha! Tome cuidado com a sandália de borracha!”.
Depois me esculhambaram por eu estar branca demais, longe do sol do Nordeste. Revidei, claro, discutimos com afeto, e tudo voltou à normalidade de todos falando ao mesmo tempo, sem ninguém entender nada direito, mas ninguém querendo desligar.
Conversar com um amigo faz nosso riso espontâneo emergir. o riso escapa do fundo da alma, ficamos bobos na hora, mais leves depois. Reencontramos nossa identidade com um amigo de verdade. Ele nos lembra quem somos, e, melhor, gosta de quem somos, do jeitinho que somos.
Lembrei de um trecho de um texto da Martha Medeiros sobre amizade, que diz:
“Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador. Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém”.
Amém.
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CITADO NO TEXTO