O mundo assiste perplexo às razões do presidente russo Vladimir Putin para atacar a Ucrânia. Há oito anos ele provoca o país, ao anexar de volta a península da Crimeia, sendo que a própria Rússia tinha transferido a província nos anos 50. Era outro cenário, mas hoje ele vai decidindo também sobre o futuro de crianças que não têm a ver com sua obsessão pelo poder… Trazendo para nosso universo particular, a pergunta é: será que também não agimos de forma autoritária no nosso dia a dia? Não batemos o pé e exigimos que o mundo ao nosso redor aja como queremos, sob risco de explodirmos bombas de palavras, de indiferença, de aspereza? Quantas bombas explodimos por dia? Quantos inocentes atingimos? Será que não poderíamos reconhecer os gatilhos mentais que fazem detonar essas bombas, a fim de desativá-las em tempo?
Em um exercício com um amigo para encararmos nosso potencial destruidor, descobrimos que um dos gatilhos que nos causa irritação é quando temos que lidar com quem quer mandar na situação, desconsiderando a nossa vontade. A cada ação dessas, o organismo reage como um vulcão em erupção. Vem borbulhando desde o interior do estômago e vai queimando pela garganta, arranhando a tinta e os azulejos, como diria a canção da Ana Carolina.
O óbvio seria uma explosão certeira e fatal, espalhando danos em forma de palavras. Hoje, conseguimos identificar com antecedência (segundos, eu diria!) a ameaça da erupção. Ao percebermos o sintoma recorrente, tentamos escolher outra reação. Isso é resultado de muito estudo sobre autoconhecimento, tão importante para todos nós, mas tão banalizados por alguns. Se cada um de nós fizesse o exercício de auto-observação, certamente não haveria tantos desentendimentos. A culpa não seria só do outro, eu enxergaria meus traços possessivos antes de acionar a guerra, e, quem sabe, recuaria. E evitaria certas companhias que acionam esses gatilhos.
Por que, então, resistimos a nos observar, uma vez que poderíamos viver melhor conosco e com os outros? Porque é assustador constatar que somos luz e sombra. Que não temos a razão total e absoluta. Que é resultado do que vivemos, assim como a do outro. É um processo difícil, mas a paz coletiva depende de cada um.