O reconhecimento é mais desejado por empregados do que aumento salarial, segundo pesquisas. Mas numa organização é impossível reconhecer todos os que estão fazendo diferença. E é comum o mesmo empregado ser reconhecido várias vezes, desequilibrando mais ainda a balança do todo. Assim, o que era para ser motivador pode ser causa de inveja e ciúme nos preteridos.

Outro ponto a ser considerado é o recado do chefe ao escolher o empregado para ser reconhecido publicamente: que todos devem seguir aquele perfil dedicado, cumpridor das regras, que entrega além do combinado. Os demais que corram para alcançar o prêmio no próximo mês. Mais competição e, talvez, mais injustiça.

Impulsionando a corrida maluca, ele, o ego. Não queremos apenas o troféu, queremos mostrar que somos o melhor. Basta ver a solenidade de entrega dos prêmios da música, do cinema. É o acontecimento. Você será escolhido como o melhor, receberá palmas, dinheiro, prestígio, novos patrocinadores. Você é o melhor, embora não seja.

Para aqueles que selecionaram, sim, você é o melhor. Porém, melhor filme do mundo enquanto centenas de milhares de outros nem entraram para a seleção não pode ser o melhor do mundo. É o melhor para aquele grupo seleto de avaliadores, com muitos pesos comerciais na balança, diga-se de passagem.

Mas, se é ilusão receber a faixa do melhor, por que queremos tanto o irreal?

Porque nosso ego carente quer aprovação dos outros. “Palmas para ele, que ele merece!”, incentivaria um apresentador de auditório.

É fato que é muito boa a sensação de receber um troféu de melhor da competição. Só é preciso ter a consciência de que é o melhor de um pedacinho. Se conseguirmos viver com esta clareza sobre nossa importância no universo, o ego terá que baixar a bola do orgulho e a vida correrá mais leve.

Melhor mesmo seria tentar absorver o que diz a canção “Maior” do Milton Nascimento e Dani Black: “Eu sou maior do que era antes. Estou melhor do que era ontem”.

Vencer a nós mesmos é uma vitória mais real. O parâmetro está claro. Ontem não sabia andar de bicicleta, hoje faço trilha de ciclismo. Ontem não sabia inglês, hoje assisto a filmes sem legendas. Ontem não sabia dirigir, hoje dirijo pensando nas mil coisas a fazer.

São vitórias silenciosas, sem palmas da plateia. O problema é que isso é pouco para o ego. Seguimos, então, mendigando as palmas da ilusão.

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CITADO NO TEXTO