O filme “Como seria se…”, lançado pela Netflix, traz uma história que poderia ser a nossa. A personagem percorre dois caminhos ao mesmo tempo com finais totalmente diferentes, mas um não é melhor do que o outro, pois em ambos ela chorou, gargalhou, aprendeu, sofreu e amou. Assim acontece conosco todos os dias. Os cientistas da mecânica quântica defendem que ao nosso redor, a todo instante, existem centenas de possibilidades (não apenas duas, como no filme). Centenas de caminhos a espera de nosso livre-arbítrio para escolha. Aonde cada caminho vai nos levar é a incógnita, a graça de viver. Ah, mas não temos um destino? Parece que não.

Há os que defendem que antes de encarnarmos recebemos um plano de vida, o qual aceitamos e, muitas vezes, até imploramos por ele. Mas não é impositivo. Tanto que nem lembramos dele quando chegamos por aqui. Vamos nos guiando pela intuição. Veja o quão maravilhoso é o Criador, que desde sempre nos mostra o que é liberdade, o direito de escolha!

O problema é que a gente nem sempre trabalha bem com escolhas. No supermercado, por exemplo, é um suplício ter que escolher entre tantas marcas de desinfetante. Se tivéssemos só duas, seria mais fácil, o que não significa que a escolha seria certeira. Só quando fôssemos limpar a casa é que saberíamos se a tal escolha foi além do perfume, além do superficial, se limpou mesmo, se cumpriu o anunciado.

Na nossa vida é assim. Somos facilmente levados pelo anúncio do belo, do emocionante, e fazemos a escolha muitas vezes pelo impulso. Pode dar ruim, mas podemos rever o plano, reconhecer que aquela escolha foi a melhor num determinado momento, mas no cenário atual ela já não diz nada. E tudo bem. O que gostei no filme foi isso. De não querer mostrar que existe um caminho certo. Não. Cada um leva a diferentes experiências, outras pessoas, outros finais.

Na minha história, se eu tivesse escolhido a psicologia, como queria na adolescência, em vez do jornalismo, sabe-se lá como eu estaria hoje (e pior ainda, como estariam meus pacientes, tadinhos!). Onde eu estaria agora? Escrevendo sobre isso é que não seria. Não teria conhecido tanta gente maravilhosa que conheci por meio da Comunicação, e nem teria o filho que tenho, meu maior presente. Mas esta é a realidade que conheço. As outras poderiam ter sido interessantes também.

Eu poderia estar na realidade dos logoterapeutas, conversando sobre Victor Frankl (eita, coisa boa!). Poderia ser uma cantora de rock nacional, uma designer de interiores, uma pianista, uma professora da educação infantil, uma escritora…Rapidinho eu lembrei de seis vontades que sempre carreguei na vida. Será que estão no meu plano de vida? Será que eu teria sido mais feliz se vivesse uma dessas vidas?

Como não temos como saber antecipadamente, penso que uma alternativa seja nos conectarmos mais com nosso silêncio, pedirmos orientação para uma direção que resulte num caminho de construção de algo bom na nossa vida e na vida dos outros. Algo que extraia o máximo da nossa força criativa e da alegria. Que ilumine nossos olhares, que espalhe bem querer aos que estão ao nosso redor, que contribua de alguma forma para o progresso da vida em geral. “Se meu dia for assim, tá tudo bem”, diz a canção do Pedro Mariano. Sim, está tudo bem.

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CITADO NO TEXTO

“Tá tudo bem”– Pedro Mariano