Sigo uma página no Instagram, a @evercutebr, que compartilha histórias reais de casais aleatórios. O cara sai pelas ruas, pede licença a um casal qualquer e pergunta: “Vocês são um casal?”. Em geral, o homem reage com um semblante desconfiado, fechado, que é logo transformado com a pergunta seguinte: “Pode compartilhar sua breve história de como vocês se conheceram?”.
É nítida a mudança deles neste momento. O corpo fala. Os ombros relaxam, eles olham para o nada, sorriem, viram-se um para o outro, como se pedissem consentimento. São provocados a viajar pelo tempo, a lembrar do que tiveram, têm, de melhor.
Começam a contar onde se conheceram: na faculdade, na escola, numa festa, um amigo apresentou, nas redes sociais. Alguns ficaram afastados por anos, reencontraram-se ao acaso, geralmente numa festa oferecida por amigos em comum, ou procuraram o paradeiro do outro pelas redes sociais.
Saber como se conheceram é uma curiosidade que sempre tenho quando conheço casais. Acho incríveis as manobras do destino.
Teve um que estava em um aniversário e sem querer derramou suco de goiaba na menina desconhecida. Parece filme. Ela ficou brava, mas depois ficaram conversando. Hoje, planejam o casamento. Se ela retrocedesse sua história para horas antes daquele aniversário, estaria pensando em muitas coisas enquanto se arrumava, mas jamais imaginaria que em poucas horas conheceria seu desastrado futuro marido. E a gente ainda acha que pode controlar todos os acontecimentos!
Há quem tenha a ilusão de que domina a própria vida, que não há força oculta alguma, nada: anjo guardião, Deus, metafísica, nada. Só vale o seu plano de ação com metas e resultados. Tenho um pouco de dó de quem pensa assim, de forma tão autocentrada, pois deixa de perceber o entorno dos acasos.
O entrevistador faz a próxima pergunta: O que chamou sua atenção nele/nela? Eles começam a ressaltar as características positivas do outro. É tão bom ver isso! Semblantes de vergonha, de surpresa, de admiração! Eu assisto a todas as histórias que surgem na minha timeline. Sorrio e torço para que fiquem eternamente juntos.
Muitas destacam a forma protetora e carinhosa do parceiro. Portanto, solteiras em busca de um parceiro real! Saibam que existe luz na estrada da solidão. Existem homens atenciosos passeando pelas ruas. Estão nos testemunhos de vários vídeos: “Ele me trata como uma princesa”. “O que gosto mais é a forma como ele me trata”. “Ele me apoia em tudo, é meu grande parceiro”. “Gosto como ele me protege”.
Eles, por sua vez, também falam sobre o cuidado, a atenção, da mulher, mas também ressaltam a inteligência e a determinação de ela lutar pelo que quer. Palmas para eles!
Outro fator animador é que o lado bom da pessoa tem contado ponto. “Falo isso pra ela direto”, comentou um jovem apaixonado. “Quando eu critico alguém ou alguma coisa, ela sempre mostra que não é bem assim”. Estão de casamento marcado. Da mesma forma, uma senhora casada há 45 anos contou, sem medo de errar, o que mais admira no seu companheiro: “Ele não tem maldade”. E ele devolveu: “Ela é o amor da minha vida. O que mais admiro nela é a sua força”.
Outro casal maduro contou que se conheceu pela internet. “Eu sabia que casaria com ela antes de ela me conhecer”, previu o romântico. “O que mais admiro nele é a inteligência, o coração. Não tem nada nele que eu não admire”, devolveu a parceira, contando que no primeiro encontro foram a uma livraria assistir a um show de jazz.
Por falar em música, teve um casal que falou que o que chamou atenção de ambos nas redes sociais foi a preferência musical. “Vi que a gente tinha o gosto musical parecido, é aí me interessou. Conversamos uns oito meses e depois a convidei para o meu aniversário”, disse ele. Atitude, portanto. E ela: “O que mais me atraiu foi o estilo dele. Foi amor à primeira vista”.
Teve um outro que surgiu carregando a parceira nas costas num tipo de trilha. Estão há pouco tempo juntos, oito meses, e ele diz o que mais gosta nela: “Ela vai comigo nas minhas doidices“. Provavelmente, ser carregada nas costas no meio do nada é uma dessas maravilhosas doidices. E pelo sorriso aberto dela, deve ser uma doidice divertida. Ela o definiu como carinhoso, atencioso e muito inteligente.
O que fica destes exemplos é a lição de que generalizar seres humanos é deixar de conhecer preciosidades. Existem muitas pessoas cuidando das outras e deixando ser cuidadas. Para os que seguem sozinhos, pode ser que sofrimentos do passado tenham erguido barreiras antiamor no presente. Pensam que é melhor sozinho do que na ilusão, na agressão, na briga. Sim, é melhor, sem dúvida. Mas estar com alguém que cuida, que vai nas doidices, que tem o gosto musical parecido, ah parece ser uma vida bem interessante.
Para fazer dar certo, eles aconselham: paciência, muita conversa, não deixar para resolver o problema depois, relevar bobagens. Se me parassem na rua, acho que eu também diria: continuar tendo projetos próprios, embora participando dos sonhos do outro. Estar juntos de forma saudável para mim é isso. É ter uma vida individual compartilhada, porém não anulada pelo jeito de viver do outro. É ter aquela liberdade de ser quem somos como quando estamos com um amigo de verdade. A alma voa leve sendo quem somos, o amor respira, agradece e cresce. Se este também for o significado de amor dos dois, das duas, aí é correr para o abraço apertado e agradecer pelo encontro. Pode até usar a canção da Vanessa da Matta como trilha sonora: “Entre tantas paixões, esse encontro, nós dois, esse amor. Que sorte a nossa, hein?”
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