Quem já sofreu por amor tende a desconfiar quando uma nova relação surge. Se tudo está fluindo sem esforço, aí que o alerta é acionado alto. Será verdade ou minha carência está inventando?

Uma mulher preferiu acreditar na letra B e parece que errou feio. Médica, divorciada, quatro filhos, ela resolveu entrar em um aplicativo de relacionamentos para tentar encontrar um parceiro legal para conversar e conhecer um potencial novo amor.

Após algumas tentativas frustrantes, conheceu um homem com quem teve muitas afinidades. O papo se estendeu para o privado, até marcarem um jantar em um restaurante. E ali o sinal amarelo dela foi acionado. Estava bom demais!

Logo que ela chegou ao restaurante, a primeira surpresa. Ele puxou a cadeira para ela se sentar. Isso ainda existe?, pensou ela. O papo desenrolou mais solto do que pelas redes. Uma garrafa de vinho maravilhoso completava a cena de filme. Hummm, já sei o que ele está querendo, alertou o coisa ruinzinha em sua mente.

Ambos tinham muitas experiências para compartilhar. Ele estava separado há um ano. Tem dois filhos adultos, vida profissional resolvida, gosto por viagens, filmes e rock. Muito a ser dito, ouvido, brindado.

Os ciclos anteriores dos dois foram concluídos sem grandes traumas. Como diz a música dos Paralamas: “Lágrimas por ninguém. Só porque é triste o fim”. Não existia mais amor nas relações. Até admitiram que deixaram passar tempo demais para tomarem a decisão de pôr fim às uniões. No caso dele, quem decidiu se separar foi a esposa. Por ele, continuariam levando o casamento como bons amigos. Estava confortável a rotina de família e atitudes previsíveis, com tudo sob controle.

Após um ano e alguns poucos encontros nos apps de relacionamento, ele dizia que estava pronto para viver um novo amor. E o que ele buscava nos sites de relacionamentos?, eu quis saber certo dia, já esperando “sexo” como resposta óbvia.

Mas não foi o que ele respondeu. Disse que queria encontrar alguém com quem gostasse de conversar, com quem pudesse voltar a sorrir, se divertir, viajar e, sim, queria voltar a dormir e acordar junto a alguém especial. Conheço a figura. É daqueles que cede o lugar na fila para a mulher, que usa letra de música em suas apresentações de trabalho e que não abusa de sua autoridade no cargo de liderança que ocupa. Acredito que ele tenha mostrado parte disso para sua pretendente. O problema é que ela não acreditou que poderia ser verdade. Que pena. Era.

O mais incrível é que ela não escondeu sua desconfiança. Ele me contou, decepcionado, que ela disse que gostaria de encerrar os encontros porque “ele deve ser fake (!!!!!!!!), pois não é possível existir homens assim”.

“E eu estava tão a fim de continuar saindo com ela, uma mulher tão interessante…”, disse meu colega, perguntando em seguida: “O que querem as mulheres?. É ruim ser como sou?”.

(Aiaiai, se eu conhecesse esta mulher que acabara de recusar este presente, eu a alertaria para a burrada que estava fazendo…)

Mas fica a lição para os solteiros. Ela recusou a oportunidade e segue tentando encontrar alguém. Ele, por sua vez, já está namorando. Conheceu a nova namorada também no aplicativo. Diferente da anterior, é uma mulher uns 20 anos mais jovem, sem filhos, mas que disse sim para a possibilidade. Planejam uma primeira viagem juntos e, em breve, ele deve apresentá-la aos filhos. Quer apresentá-la à família e conhecer a dela. Quem sabe, será uma linda história de amor?

Pelo sim, pelo não, curemos nossas crenças de desvalia, de desamor, de desconfiança das pessoas antes de buscarmos outra relação. Nossos relacionamentos ruins do passado não devem definir nossos relacionamentos atuais. Caso contrário, o match será na pessoa errada.

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No episódio