Tenho dúvidas se fomos planejados para exercitar nosso lado social o tempo todo. Imagine o esforço que uma pessoa organizada faz para dividir a casa com uma desorganizada. Tem que se controlar ao ver compras duplicadas sem necessidade, roupa jogada em qualquer lugar, contas atrasadas. O outro perfil também deve penar ao ouvir todo santo dia as mesmas “cantigas de grilo” sobre seu descontrole e desorganização.
Pense o que é para uma pessoa goodvibes seguir por anos e anos convivendo com a outra que já amanhece reclamando, ou ter que ouvir notícias negativas naquele programa de TV que ela jamais escolheria se morasse só? Da mesma forma, deve ser penoso ter que baixar o volume da TV depois de ouvir pela milésima vez que o tal programa colabora para o mau-humor na casa.
E as provas continuam pelo dia afora, seja participando de reuniões entediantes, percebendo puxa-saquismos ou engolindo arrogância e até humilhação. Nessas horas, um recurso positivo é abrir a gaveta da memória e lembrar de algo bom, divertido, amoroso. Dispersa de imediato a sensação incômoda e nos lembra que a vida tem suas compensações.
A geração conectada pela tecnologia prefere viver num mundo paralelo como o da memória seletiva. E antes de criticarmos seu modo como individualista, analisemos o dia de uma pessoa dessas. Ela pode estar muito feliz ali, jogando com quem quer jogar, conversando com quem quer conversar, ouvindo a música que quer ouvir. Ok, a vida não é feita somente do que queremos. Mas enquanto a decisão estiver na mão deles, podem decidir com quem interagir, afinal não é meta desses garotos ser o gente boa do bairro. Eles nem querem conhecer o próprio bairro. Estão em outro metaverso, num mundo particular, com a turma deles, sendo legal com eles mesmos. Não é isso que buscam os que ficam centrados no silêncio? Conectar-se com o eu? A turma do digital consegue isso com frequência. Outra turma, só no fim de semana. Outra, quase nunca, pois vive conforme as imposições dos outros. E assim caminhamos, lado a lado ou não.