É comum nas entrevistas de emprego candidatos citarem o perfeccionismo como característica negativa. Mas, o que parece humildade pelo reconhecimento de uma fraqueza, pode ser tentativa de disfarçar o que ele acredita ser seu ponto forte.

Existe a crença de que o perfeccionista busca realizar as tarefas da melhor forma possível, o funcionário que toda empresa deseja, certo?

Nem tanto, mestre!

Pesquisas sobre vulnerabilidade e vergonha constatam que por trás do perfeccionista existe o medo de não ser aceito, elogiado, aprovado. Medo de falar besteira ou de admitir que não sabe uma determinada resposta.

Um bom recrutador pode perceber, também, que aquele perfeccionista tem fortes chances de ser alguém com tendência ao controle das atitudes dos demais. E a criatividade foge de ambientes tensos assim.

Lembro de uma cena entre colegas comunicadores, quando recebemos a missão de encontrar um novo nome para a empresa para a qual trabalhávamos.

Todos sentamos em círculo no chão, entre almofadas, para falarmos as primeiras palavras que viessem à mente, que tivessem a chance de ser um nome para a nossa empresa. Não era permitido criticar as sugestões do outro, o lema era deixar fluir.

Entre tantas ideias surreais, mais uma: “Janela”.

O funcionário justificou a sugestão, explicando que janela representa a observação, o olhar para o mundo, nome perfeito para uma agência de comunicação, ao seu ver.

O novo nome não saiu desta reunião, mas nasceu ali um novo projeto de sucesso: a criação de 100 camisetas, cada qual com um verso diferente das poesias do Chico Buarque.

É que depois de “Janela” saiu “Vitrine”, que, por sua vez, lembrou a canção homônima do Chico, provocando o coro dos fãs presentes na reunião: “Nos teus olhos também posso ver as vitrines te vendo passar…” E daí surgiu a ideia da homenagem ao cantor como mimo aos nossos clientes, incluindo a imprensa.

Se aquele funcionário que sugeriu “Janela” fosse perfeccionista ao extremo, com medo das críticas, provavelmente não teria falado sua ideia “boba”, logo não teria nascido o projeto do Chico, e a marca da empresa não teria sido divulgada tão positivamente na imprensa naquele período.

E vale destacar que perfeccionismo não é se esforçar para a  excelência, pois escolher cem versos e produzir cem camisetas exclusivas é coisa de quem se esforça para alcançar o melhor. A pesquisadora Brené Brown difere bem esses perfis em seu livro “A coragem de ser imperfeito”.

“A maior parte dos perfeccionistas cresce sendo louvada por suas conquistas e seu bom desempenho (notas, boas maneiras, aparência, esportes). Em algum ponto do caminho, eles adotaram esse sistema de crença perigoso e debilitante: `Eu sou o que realizo e quão bem o realizo´. O empenho saudável é focado em si mesmo: ´Como posso melhorar?´ Mas o perfeccionismo é focado nos outros: ´O que eles vão pensar?´.

Segundo suas pesquisas, se quisermos estar livres do perfeccionismo, precisamos “pegar leve nas cobranças e apreciar a beleza de nossas falhas e imperfeições, ser amorosos e receptivos com nós mesmos e com os outros, e precisamos conversar conosco da mesma maneira com que conversamos com alguém que amamos”.

Vamos, então, reduzir nossas expectativas sobre nós e os outros, abrir as janelas e deixar brilhar a autenticidade de cada um.

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CITADO NO TEXTO