Ao entrar no condomínio onde moro encontro uma conhecida simpática que não via há décadas. E foi ela quem iniciou o papo:
– Ei, menina, há quanto tempo! Como vai sua mãe?
– Verdade, há muito tempo mesmo! Minha mãe blablabla! (depois das formalidades iniciais, digo que moro ali e pergunto se ela também)…
– Não, eu tenho um apartamento alugado aqui, mas na verdade eu nem sei onde é…
– ??????
– Não sei se é nesta ou na outra torre, se é no 11º ou no 12º andar…
– ??????
– Vou lá na administração agora pra ver se descubro, e tenho que quitar também os condomínios atrasados. Tchau, bom te ver! Estou morando no mesmo lugar. Quer dizer, até mês que vem, pois irei pra outro bairro, só não sei quando…
– Ah, tá. Beleza, então. Bom ver você também!
A criatura foi andando e eu comentei com o porteiro: ou é rica demais ou avoada demais.
Ou compra apartamentos aos montes que dá até pra confundir-se, do tipo que arremata meia dúzia a cada leilão, por puro hábito, por gostar de leilão, de arrematar, de pagar condomínio, sei lá.
Ou é avoada mesmo, do tipo que pega Uber e não diz o destino, como na infinita Highway, pois não precisamos saber para onde vamos, só precisamos ir.
Nas duas hipóteses, penso na diversidade do ser humano, em como Caetano está certo quando diz que de perto ninguém é normal. E o que é ser normal? É saber onde você tem um apartamento? Ora, bolas. Coisas são só coisas. Bobagem capitalista. E se você quer evoluir, melhor soltar essas coisas.
Sigo nas redes sociais um estudioso em Física Quântica que reclama muito sobre os desejos de seus clientes. Segundo ele, a maioria absoluta chega até ele pedindo o desbloqueio da energia negativa, a fim de conseguir conquistar casa-carro-apartamento.
Ele fica bem irritado com esses desejos, pois demonstra que o aluno/cliente ainda não entendeu o que ele vem ensinando: que quando estamos unificados com o Todo (Deus, Universo ou como prefira denominar o Criador), não precisamos pedir coisas. Somos co-criadores de tudo. Tudo está a nosso alcance. E que o ideal seria, então, pedir a unificação com o Todo.
Acho que essa minha conhecida já está unificada com o Todo, evoluiu mesmo. Nem liga pro apartamento e nem pra nova casa onde vai morar. Abestada sou eu, que continuo na materialidade banal. Aperto o 13, que é o meu andar.