– “Sua pele está mais bonita, amiga!”
– “E o seu sorriso? Está mais solto!”

O diálogo foi travado entre duas amigas que se conhecem bem, sabem dos caminhos difíceis que ambas passaram, e torceram com toda a força de suas almas para que a outra saísse daquele tormento.

É certo que nem sempre o amigo fará o que você diz (e vai saber se o que você diz é o melhor mesmo, não é?), mas se é amigo, vai dar sua opinião, sim.

Tem casos em que o outro ouve, faz cara de quem vai fazer tudinho, mas recua. Não consegue ver em si a coragem que o outro vê. Foi assim quando tive que pular de uma pedra para outra, às margens de uma cachoeira, e fiquei paralisada de medo. Não sei o que aconteceu. Eu e meu amigo descemos uma centena de escadas, entre a vegetação nativa. Mas, quando vi que teria que pular de uma pedra para outra, com a correnteza entre elas, parecia que tinham colado meus pés na pedra. Eu estava paralisada pelo medo.

“Amiga, segure minha mão e pule. Você não confia em mim?”, disse ele, com braços esticados na outra pedra.

“Amigo, me desculpe. Eu confio em você, mas não consigo pular”

Em vez de magoado pela minha falta de entrega ao seu apelo, ele desistiu de conhecer a mais bela cachoeira do passeio. “Tudo bem, eu volto com você. Vamos comprar umas cervejas e ficar na piscina do hotel pegando sol e falando besteira?”, propôs.

Sem palavras. Se ele tivesse me esculhambado teria doído menos.

O medo, seja de pular de pedra a pedra, mudar de emprego, de relacionamento, de cidade, de país, de identidade, sempre estará presente quando determinamos que gostaríamos de explorar outro eu. Será que não existe outro eu? Ou só este a quem estamos adaptados? O eu familiar e seguro, que tem medo de pular?

As amigas ensaiaram o novo passo durante muito tempo, até a coragem chegar e tudo parecer mais simples do que a mente sempre complicou.

Tudo ao redor delas melhorou: o casamento, a autoestima, o autocuidado, os projetos, tudo
conspirando para a prosperidade. Enfim, compreenderam que são cocriadoras da vida. Que não há nada errado se estagnaram. Foi só o resultado da escolha pelo adiamento. E que quando chega a hora do pulo, a mão de um grande amigo estará lá.