Clarice Lispector é autora de trechos muito compartilhados na internet. “Viver ultrapassa qualquer entendimento” está entre os mais famosos. A pergunta que não quer calar é: as pessoas que postam e repostam os pensamentos da Clarice agiriam da mesma forma se fossem amigas da própria Clarice? Duvi-de-o-do.

Existem muitas páginas nas redes sociais com frases motivadoras. Os conteúdos se encaixam em algum momento da vida de todos nós e é natural querermos compartilhá-los. Mas será que os amigos da vida real também não escrevem coisas motivadoras, animadoras? Repostamos?

É estranho, mas não validamos publicamente as criações dos amigos da mesma forma como fazemos com os mais distantes e até desconhecidos.

Parece que existe um código velado nas redes sociais. Aos amigos íntimos, a piada, o elogio à beleza, mas o comentário que promove o talento vai para…os colegas, as celebridades.

Não deve ser de agora essa estranheza, pois há muito tempo existe o ditado popular: “Santo de casa não faz milagre”. E desde sempre artistas saem das cidades onde nasceram e viveram para serem reconhecidos noutras terras. Mas, podemos interromper este ciclo.

Por que pagar para estranhos os mesmos produtos e serviços que os amigos vendem?

Por que não comentar nas páginas dos amigos, validando sua ideia, sua empresa, uma vez que se conhece tão bem o dono do empreendimento?

Existem exceções, claro. Tem gente que não tem a  menor aptidão por doce, mas compra do amigo o bolo recheado de nutella apenas para ajudá-lo. E nunca vai dizer que a compra foi para ajudá-lo. Sempre enaltece a qualidade do produto e o indica para outros. Assim como tem quem compartilhe as postagens  do amigo, com direito a músicas especiais a cada compartilhamento.

Por outro lado, tem aquele que ignora que o amigo está vendendo roupas em casa e prefere parcelar em mil vezes na loja do shopping. Tem aquele, também, que até vai comprar do amigo, mas sempre pede um desconto a mais. E se o amigo for produtor de eventos, então, aí o outro pede na cara dura o ingresso de graça.  Será que é prova de amizade pedir de graça o que o amigo vende para viver?

Quando Milton Nascimento diz que amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito, não significa que ao amigo só cabe emoji de coração não. Amigo precisa de dinheiro e de reconhecimentos por seus talentos também.

Se identificamos amigos que agem desta forma conosco, ou se nós agimos assim, vale refletirmos sobre o que Clarice dizia: “Já chamei pessoas próximas de “amigo” e descobri que não eram… Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim”.

Mais um trecho para compartilhar.